REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Terça-feira da 5ª Semana da Quaresma
1) Oração
Concedei-nos, ó Deus,
perseverar no vosso serviço
para que, em nossos dias,
cresça em número e santidade
o povo que vos serve.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 8, 21-30)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João - Naquele
tempo, 21Jesus disse-lhes: Eu me vou, e procurar-me-eis e morrereis
no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir. 22Perguntavam
os judeus: Será que ele se vai matar, pois diz: Para onde eu vou, vós não
podeis ir? 23Ele lhes disse: Vós sois cá de baixo, eu sou lá de
cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. 24Por isso vos
disse: morrereis no vosso pecado; porque, se não crerdes o que eu sou,
morrereis no vosso pecado. 25Quem és tu?, perguntaram-lhe eles
então. Jesus respondeu: Exatamente o que eu vos declaro. 26Tenho
muitas coisas a dizer e a julgar a vosso respeito, mas o que me enviou é
verdadeiro e o que dele ouvi eu o digo ao mundo. 27Eles, porém, não
compreenderam que ele lhes falava do Pai. 28Jesus então lhes disse:
Quando tiverdes levantado o Filho do Homem, então conhecereis quem sou e que
nada faço de mim mesmo, mas falo do modo como o Pai me ensinou. 29Aquele
que me enviou está comigo; ele não me deixou sozinho, porque faço sempre o que
é do seu agrado. 30Tendo proferido essas palavras, muitos creram
nele. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* Na semana passada, a
liturgia nos levava a meditar o capítulo 5 do Evangelho de João. Esta semana
ela nos confronta com o capítulo 8 do mesmo evangelho. Como o capítulo 5,
também o capítulo 8 contém reflexões profundas sobre o mistério de Deus que
envolve a pessoa de Jesus. Aparentemente, trata-se de diálogos entre Jesus e os
fariseus (Jo 8,13). Os fariseus querem saber quem é Jesus. Eles o criticam por
ele dar testemunho de si mesmo sem nenhuma prova ou testemunho para
legitimar-se diante do povo (Jo 8,13). Jesus responde dizendo que ele não fala
a partir de si mesmo, mas sempre a partir do Pai e em nome do Pai (Jo 8,14-19).
* Na realidade, os diálogos
são também expressão de como era a transmissão catequética da fé nas
comunidades do discípulo amado no fim do primeiro século. Eles refletem a
leitura orante que os cristãos faziam das palavras de Jesus como expressão da
Palavra de Deus. O método de pergunta e resposta ajudava-os a encontrar a
resposta para os problemas que, naquele fim de século, os judeus levantavam
para os cristãos. Era uma maneira concreta de ajudar a comunidade a ir
aprofundando sua fé em Jesus e sua mensagem.
* João 8,21-22: Onde eu
vou, vocês não podem me seguir. Aqui João aborda um novo assunto ou um
outro aspecto do mistério que envolve a pessoa de Jesus. Jesus fala da sua
partida e diz que, para onde ele vai, os fariseus não podem segui-lo. “Eu vou e vocês me procuram e vão morrer no
seu pecado”. Eles procuram Jesus, mas não vão encontrá-lo, pois não o
conhecem e o procuram com critérios errados. Eles vivem no pecado e vão morrer
no pecado. Viver no pecado é viver afastado de Deus. Eles imaginam Deus de um
jeito, e Deus é diferente do que eles o imaginam. Por isso não são capazes de
reconhecer a presença de Deus em Jesus. Os fariseus não entendem o que Jesus
quer dizer e tomam tudo ao pé da letra: “Será
que ele vai se matar?”
* João 8,23-24: Vocês
são aqui de baixo e eu sou lá de cima. Os fariseus se orientam em tudo
pelos critérios deste mundo. “Vocês são
deste mundo e eu não sou deste mundo!” O quadro de referências que orienta
Jesus em tudo que ele diz e faz é o mundo lá de cima, isto é, Deus, o Pai, e a
missão que recebeu do Pai. O quadro de referências dos fariseus é o mundo cá de
baixo, sem abertura, fechado nos seus próprios critérios. Por isso, eles vivem em
pecado. Viver em pecado é não ter o olhar de Jesus sobre a vida. O olhar de
Jesus é totalmente aberto para Deus a ponto de Deus estar nele em toda a sua
plenitude (cf. Col 1,19). Nós dizemos: “Jesus é Deus”. João nos convida a
dizer: “Deus é Jesus!”. Por isso, Jesus diz. “Se vocês não acreditarem que EU SOU, vocês vão morrer em seus pecados”.
EU SOU é a afirmação com que Deus se apresentou a Moisés no momento de libertar
o seu povo da opressão do Egito (Ex 3,13-14). É a expressão máxima da certeza
absoluta de que Deus está no meio de nós através de Jesus. Jesus é a prova
definitiva de que Deus está conosco, Emanuel.
* João 8,25-26: Quem é você? O mistério de Deus
em Jesus não cabe nos critérios com que os fariseus olham para Jesus. De novo
perguntam: “Quem é você?” Eles nada entenderam porque não entendem a linguagem
de Jesus. Jesus teria muito a falar a eles a partir de tudo que ele
experimentava e vivia em contato com o Pai e a partir da consciência da sua
missão. Jesus não se auto-promove. Ele apenas diz e expressa o que ouve do Pai.
Ele é pura revelação porque é pura e total obediência.
* João 8,27-30: Quando
vocês tiverem elevado o Filho do Homem saberão que EU SOU. Os fariseus não entendem que Jesus, em
tudo que diz e faz, é expressão do Pai. Só vão compreendê-lo depois que tiverem
elevado o Filho do Homem. “Aí vocês saberão que EU SOU”. A palavra elevar tem o duplo sentido de elevar
sobre a Cruz e de ser elevado à direita do Pai. A Boa Nova da morte e
ressurreição vai revelar quem é Jesus, e eles saberão que Jesus é a presença de
Deus no meio de nós. O fundamento desta certeza da nossa fé é duplo: de um
lado, a certeza de que o Pai está sempre com Jesus e nunca o deixa sozinho e,
de outro lado, a radical e total obediência de Jesus ao Pai, pela qual ele se
torna abertura total e total transparência do Pai para nós.
4) Para um confronto pessoal
1) Quem se fecha nos seus critérios e acha que já sabe tudo, nunca será
capaz de compreender o outro. Assim eram os fariseus frente a Jesus. E eu
frente aos outros, como me comporto?
2) Jesus é radical obediência ao Pai e por isso é total revelação do
Pai. E eu, que imagem de Deus se irradia a partir de mim?
5) Oração final
SENHOR, escuta minha oração,
e chegue a ti meu clamor.
Não me ocultes teu rosto no dia da minha
angústia.
Inclina para mim teu ouvido;
quando te invoco, atende-me depressa. (Sl 101, 2-3)
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