REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Terça-feira da 1ª Semana da Quaresma
1) Oração
Olhai, ó Deus, a vossa família
e fazei crescer no vosso amor
aqueles que agora se mortificam
pela penitência corporal.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 6, 7-15)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo,
segundo Mateus - Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 7Nas
vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam
que serão ouvidos à força de palavras. 8Não os imiteis, porque vosso
Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais. 9Eis como
deveis rezar: PAI NOSSO, que estais no céu, santificado seja o vosso nome; 10venha
a nós o vosso Reino; seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu. 11O
pão nosso de cada dia nos dai hoje; 12perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos aos que nos ofenderam; 13e não nos deixeis
cair em tentação, mas livrai-nos do mal. 14Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, vosso Pai celeste também vos perdoará. 15Mas
se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará. - Palavra da
salvação.
3) Reflexão
* Há duas redações do Pai Nosso: Lucas
(Lc 11,1-4) e Mateus (Mt 6,7-13). Em Lucas, o Pai Nosso é mais curto. Lucas
escreve para comunidades que vieram do paganismo. Ele busca ajudar pessoas que
estão se iniciando no caminho da oração. Em Mateus, o Pai Nosso está situado no
Sermão da Montanha, naquela parte onde Jesus orienta os discípulos na prática
das três obras de piedade: esmola (Mt 6,1-4), oração (Mt 6,5-15) e jejum (Mt
6,16-18). O Pai Nosso faz parte de uma catequese para judeus convertidos. Eles
já estavam habituados a rezar, mas tinham certos vícios que Mateus tenta
corrigir.
* Mateus
6,7-8: Os vícios a serem corrigidos. Jesus critica as pessoas para
as quais a oração era uma repetição de fórmulas mágicas, de palavras fortes,
dirigidas a Deus para obrigá-lo a atender às nossas necessidades. A acolhida da
oração por parte de Deus não depende da repetição de palavras, mas sim da
bondade de Deus que é Amor e Misericórdia. Ele quer o nosso bem e conhece as
nossas necessidades antes mesmo das nossas preces.
* Mateus
6,9a: As primeiras palavras: “Pai Nosso” Abbá, Pai, é o
nome que Jesus usa para dirigir-se a Deus. Revela a nova relação com Deus que
deve caracterizar a vida das comunidades (Gl 4,6; Rm 8,15). Dizemos “Pai nosso” e não “Pai meu”. O adjetivo “nosso”
acentua a consciência de pertencermos todos à grande família humana de todas as
raças e credos. Rezar ao Pai e entrar na intimidade com ele, é também
colocar-se em sintonia com os gritos de todos os irmãos e irmãs pelo pão de
cada dia. É buscar o Reino de Deus em primeiro lugar. A experiência de Deus
como nosso Pai é o fundamento da
fraternidade universal.
* Mateus
6,9b-10: Três pedidos pela causa de Deus: o Nome, o Reino, a Vontade. Na primeira parte do Pai-nosso, pedimos para que seja
restaurado o nosso relacionamento com Deus. Santificar o Nome: O nome
JAVÉ significa Estou com você! Deus
conosco. Neste NOME Deus se deu a conhecer (Ex 3,11-15). O Nome de Deus é
santificado quando é usado com fé e não com magia; quando é usado conforme o
seu verdadeiro objetivo, i.é, não para a opressão, mas sim para a libertação do
povo e para a construção do Reino. A Vinda do Reino: O único Dono e Rei
da vida humana é Deus (Is 45,21; 46,9). A vinda do Reino é a realização de
todas as esperanças e promessas. É a vida plena, a superação das frustrações
sofridas com os reis e os governos humanos. Este Reino acontecerá, quando a
vontade de Deus for plenamente realizada. Fazer a Vontade: A vontade de
Deus se expressa na sua Lei. Que a sua vontade se faça assim na terra como no céu. No céu, o sol e as estrelas obedecem às
leis de suas órbitas e criam a ordem do universo (Is 48,12-13). A observância
da lei Deus será fonte de ordem e de bem-estar para a vida humana.
* Mateus
6,11-13: Quatro pedidos pela causa dos irmãos: Pão, Perdão, Vitória,
Liberdade. Na segunda parte do
Pai-nosso pedimos para que seja restaurado o relacionamento entre as pessoas.
Os quatro pedidos mostram como devem ser transformadas as estruturas da
comunidade e da sociedade para que todos os filhos e filhas de Deus vivam com
igual dignidade. Pão de cada dia: No êxodo, cada dia, o povo recebia o
maná no deserto (Ex 16,35). A Providência Divina passava pela organização
fraterna, pela partilha. Jesus nos convida para realizar um novo êxodo, uma
nova maneira de convivência fraterna que garante o pão para todos (Mt 6,34-44;
Jo 6,48-51). Perdão das dívidas: Cada 50 anos, o Ano Jubilar obrigava
todos a perdoar as dívidas. Era um novo começo (Lv 25,8-55). Jesus anuncia um
novo Ano Jubilar, "um ano da graça da parte do Senhor" (Lc 4,19). O
Evangelho quer recomeçar tudo de novo! Não cair na Tentação: No êxodo, o
povo foi tentado e caiu (Dt 9,6-12). Murmurou e quis voltar atrás (Ex 16,3;
17,3). No novo êxodo, a tentação será superada pela força que o povo recebe de
Deus (1Cor 10,12-13). Libertação do Maligno: O Maligno é o Satanás, que afasta de Deus e é motivo de
escândalo. Ele chegou a entrar em Pedro (Mt 16,23) e tentou Jesus no deserto.
Jesus o venceu (Mt 4,1-11). Ele nos diz: "Coragem! Eu venci o mundo!"
(Jo 16,33).
* Mateus
6,14-15: Quem não perdoa não será perdoado. Rezando o Pai-nosso,
pronunciamos a sentença que nos condena ou absolve. Rezamos: “Perdoa as nossas
dívidas, assim como nós perdoamos aos
nossos devedores” (Mt 6,12). Oferecemos a Deus a medida do perdão que queremos.
Se perdoamos muito, Ele perdoará muito. Se perdoamos pouco, ele perdoará pouco.
Se não perdoamos, ele também não poderá perdoar.
4) Para um confronto pessoal
1.
Jesus falou "perdoai as nossas dívidas".
Em alguns países se traduz "perdoai as nossas ofensas". O que é mais fácil: perdoar ofensas ou perdoar
dívidas?
2. As
nações cristãs do hemisfério norte (Europa e USA) rezam todos os dias: “Perdoai
as nossas dívidas assim como também nós
perdoamos aos nossos devedores”. Mas elas não perdoam a dívida externa dos
países pobres do Terceiro Mundo. Como explicar esta terrível contradição, fonte
de empobrecimento de milhões de pessoas?
5) Oração final
Glorificai comigo ao Senhor,
juntos exaltemos o seu nome.
Procurei o Senhor e ele me atendeu,
livrou-me de todos
os temores. (Sl 33, 4-5)
Amém, ótimo estudo! Obrigada.
ResponderExcluirBela reflexão.
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