REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm.
Sábado da 5ª Semana da Quaresma
1) Oração
Ó Deus, vós sempre cuidais da salvação dos homens
e nesta Quaresma nos alegrais com graças mais
copiosas.
Considerai com bondade aqueles que escolhestes,
para que a vossa proteção paterna
acompanhe os que se preparam para o batismo
e guarde os que já foram batizados.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (João 11, 45-56)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo João
- Naquele tempo, 45Muitos dos judeus, que tinham vindo a Marta e
Maria e viram o que Jesus fizera, creram nele. 46Alguns deles,
porém, foram aos fariseus e lhes contaram o que Jesus realizara. 47Os
pontífices e os fariseus convocaram o conselho e disseram: Que faremos? Esse
homem multiplica os milagres. 48Se o deixarmos proceder assim, todos
crerão nele, e os romanos virão e arruinarão a nossa cidade e toda a nação. 49Um
deles, chamado Caifás, que era o sumo sacerdote daquele ano, disse-lhes: Vós
não entendeis nada! 50Nem considerais que vos convém que morra um só
homem pelo povo, e que não pereça toda a nação. 51E ele não disse
isso por si mesmo, mas, como era o sumo sacerdote daquele ano, profetizava que
Jesus havia de morrer pela nação, 52e não somente pela nação, mas
também para que fossem reconduzidos à unidade os filhos de Deus dispersos. 53E
desde aquele momento resolveram tirar-lhe a vida. 54Em consequência
disso, Jesus já não andava em público entre os judeus. Retirou-se para uma
região vizinha do deserto, a uma cidade chamada Efraim, e ali se detinha com
seus discípulos. 55Estava próxima a Páscoa dos judeus, e muita gente
de todo o país subia a Jerusalém antes da Páscoa para se purificar. 56Procuravam
Jesus e falavam uns com os outros no templo: Que vos parece? Achais que ele não
virá à festa? - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje traz a parte final
do longo relato da ressurreição de Lázaro em Betânia, na casa de Marta e Maria
(João 11,1-56). A ressurreição de Lázaro é o sétimo sinal (milagre) de Jesus no evangelho de João e é também o ponto
alto e decisivo da revelação que ele vinha fazendo de Deus e de si mesmo.
* A pequena comunidade de Betânia, onde
Jesus gostava de hospedar-se, reflete a situação e o estilo de vida das
pequenas comunidades do Discípulo Amado no fim do primeiro século lá na Ásia
Menor. Betânia quer dizer "Casa dos pobres". Eram comunidades pobres
de gente pobre. Marta quer dizer "Senhora" (coordenadora): uma mulher
coordenava a comunidade. Lázaro significa "Deus ajuda": a comunidade
pobre esperava tudo de Deus. Maria significa "amada de Javé": era a
discípula amada, imagem da comunidade. O episódio da ressurreição de Lázaro
comunicava esta certeza: Jesus traz vida para a comunidade dos pobres. Jesus é
fonte de vida para todos que nele acreditam.
* João
11,45-46: A repercussão do sétimo
Sinal no meio do povo
Depois
da ressurreição de Lázaro (Jo 11,1-44), vem a descrição da repercussão deste
sinal no meio do povo. O povo estava dividido. “Muitos judeus, que tinham ido à casa de Maria e que viram o que Jesus
fez, acreditaram nele”. Mas outros “foram
ao encontro dos fariseus e contaram o que Jesus tinha feito. Estes últimos fizeram a denúncia.
Para poder entender esta reação negativa de uma parte do povo é preciso levar
em conta que a metade da população de Jerusalém dependia em tudo do Templo para
poder viver e sobreviver. Por isso, dificilmente eles iriam apoiar um
desconhecido profeta da Galiléia que criticava o Templo e as autoridades. Isto
também explica como alguns se prestavam para ser informantes das autoridades.
* João
11,47-53: A repercussão do sétimo
Sinal no meio das autoridade
A
notícia da ressurreição de Lázaro fez crescer a popularidade de Jesus. Por
isso, os líderes religiosos convocam o conselho, o sinédrio, a autoridade
máxima, para discernir o que fazer. Pois, “esse
homem está realizando muitos sinais. Se deixamos que ele continue assim, todos
vão acreditar nele; os romanos virão e destruirão o Templo e toda a nação”.
Eles tinham medo dos romanos. De fato, o passado, desde a invasão romano em 64
antes de Cristo até à época de Jesus, já tinha mostrado várias vezes que os
romanos reprimiam com toda a violência qualquer tentativa de rebelião popular
(cf Atos 5,35-37). No caso de Jesus, a reação romana poderia levar à perda de
tudo, inclusive do Templo e da posição privilegiada dos sacerdotes. Por isso,
Caifás, o sumo sacerdote, decide: “É
melhor um só homem morrer pelo povo, do que a nação inteira perecer”. E o
evangelista faz este bonito comentário: “Caifás
não falou isso por si mesmo. Sendo sumo sacerdote nesse ano, profetizou que
Jesus ia morrer pela nação. E não só pela nação, mas também para reunir juntos
os filhos de Deus que estavam dispersos”. Assim, a partir deste momento, os
líderes, preocupados com o crescimento da liderança de Jesus e motivados pelo
medo dos romanos, decidem matar Jesus.
* João
11,54-56: A repercussão do sétimo
Sinal na vida de Jesus
O
resultado final é que Jesus tinha que viver como clandestino. “Ele não andava mais em público entre os
judeus. Retirou-se para uma região perto do deserto. Foi para uma cidade
chamada Efraim, onde ficou com seus discípulos”. A páscoa estava próxima.
Nessa época do ano, a população de Jerusalém triplicava por causa do grande
número de peregrinos e romeiros. A conversa de todos era em torno de Jesus: "Que é que vocês acham? Será que ele
não vem para a festa?" Da mesma maneira, na época em que foi escrito o
evangelho, no fim do primeiro século, época da perseguição do imperador
Domiciano (81 a 96), as comunidades cristãs que traziam a vida para os outros
viam-se obrigadas a viver na clandestinidade.
* Uma chave para entender o sétimo sinal
da ressurreição de Lázaro
Lázaro
estava doente. As irmãs Marta e Maria mandaram chamar Jesus: "Aquele a quem amas está doente!"
(Jo 11,3.5). Jesus atende ao pedido e explica aos discípulos: "Essa doença não é mortal, mas é para a
glória de Deus, para que por nela seja glorificado o Filho de Deus!"
(Jo 11,4) No evangelho de João, a glorificação
de Jesus acontece através da sua morte (Jo 12,23; 17,1). Uma das causas da sua
condenação à morte vai ser a ressurreição de Lázaro (Jo 11,50; 12,10). Muitos
judeus estavam na casa de Marta e Maria para consolá-las da perda do irmão. Os
judeus, representantes da Antiga Aliança, só sabem consolar. Não trazem vida
nova.. Jesus é que vai trazer vida nova! Assim, de um lado, a ameaça de morte
contra Jesus! De outro lado, Jesus chegando para vencer a morte! É neste
contexto de conflito entre vida e morte, que se realiza o sétimo sinal da
ressurreição de Lázaro.
Marta
diz que crê na ressurreição. Os fariseus e a maioria do povo também acreditavam
na Ressurreição (At 23,6-10; Mc 12,18). Acreditavam, mas não a revelavam. Era
apenas fé na ressurreição no fim dos tempos e não na ressurreição presente na
história, aqui e agora. Esta fé antiga não renovava a vida. Pois não basta crer
na ressurreição que vai acontecer no final dos tempos, mas tem que crer que a
Ressurreição já está presente aqui e agora na pessoa de Jesus e naqueles que
acreditam em Jesus. Sobre estes a morte já não tem mais nenhum poder, porque
Jesus é a "ressurreição e a
vida". Mesmo sem ver o sinal concreto da ressurreição de Lázaro, Marta
confessa a sua fé: "Eu creio que tu
és o Cristo, o filho de Deus que vem ao mundo" (Jo 11,27).
Jesus
manda tirar a pedra. Marta reage: "Senhor,
já cheira mal! É o quarto dia!"(Jo 11,39). Novamente, Jesus a desafia apelando para a fé na
ressurreição, aqui e agora, como um sinal da glória de Deus: "Não te disse que, se creres, verás a
glória de Deus?" (Jo 11,40). Retiraram a pedra. Diante do sepulcro
aberto e diante da incredulidade das pessoas, Jesus se dirige ao Pai. Na sua
prece, primeiro, faz ação de graças: "Pai,
dou-te graças, porque me ouviste. Eu sabia que tu sempre me ouves!" (Jo
11,41-42). Jesus conhece o Pai e confia nele. Mas agora ele pede um sinal por
causa da multidão que o rodeia, para que possa acreditar que ele, Jesus, é o
enviado do Pai. Em seguida, ele grita em alta voz, grito criador: "Lázaro, vem para fora!" E
Lázaro veio para fora (Jo 11,43-44). É o triunfo da vida sobre a morte, da fé
sobre a incredulidade! Um agricultor comentou: "A nós cabe retirar a pedra! E aí Deus ressuscita a comunidade.
Tem gente que não quer tirar a pedra, e por isso a comunidade deles não tem vida!"
4) Para um confronto pessoal
1) O
que significa para mim, bem concretamente, crer na ressurreição?
2)
Parte do povo aceitava Jesus, parte não aceitava. Hoje, parte do povo aceita a
renovação da igreja, e parte não aceita. E eu?
5) Oração final
Ouvi, nações, a palavra do SENHOR,
anunciai às terras distantes; dizei:
‘Aquele mesmo que dispersou Israel
vai reuni-lo novamente
e dele cuidará qual pastor do seu
rebanho.’
Pois o SENHOR libertou Jacó,
livrou-o do poder de outro mais forte. (Jr
31, 10-11)
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