REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Terça-feira da 3ª Semana da Quaresma
1) Oração
Ó
Deus, que a vossa graça não nos abandone,
mas
nos faça dedicados ao vosso serviço
e
aumente sempre em nos os vossos dons.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Mateus 18, 21-35)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo,
segundo Mateus - Naquele tempo, 21Pedro se aproximou dele e disse:
Senhor, quantas vezes devo perdoar a meu irmão, quando ele pecar contra mim? Até sete vezes? 22Respondeu
Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete. 23Por
isso, o Reino dos céus é comparado a um rei que quis ajustar contas com seus
servos. 24Quando começou a ajustá-las, trouxeram-lhe um que lhe
devia dez mil talentos. 25Como ele não tinha com que pagar, seu
senhor ordenou que fosse vendido, ele, sua mulher, seus filhos e todos os seus
bens para pagar a dívida. 26Este servo, então, prostrou-se por terra
diante dele e suplicava-lhe: Dá-me um prazo, e eu te pagarei tudo! 27Cheio
de compaixão, o senhor o deixou ir embora e perdoou-lhe a dívida. 28Mas
este servo, tendo saído, encontrou um dos seus companheiros, que lhe devia cem
dinheiros, e, lançando-lhe a mão, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. 29O
outro caiu-lhe aos pés e pediu-lhe: Dá-me um prazo e eu te pagarei! 30Mas,
sem nada querer ouvir, este homem o fez lançar na prisão, até que tivesse pago
sua dívida. 31Vendo isto, os outros servos, profundamente tristes,
vieram contar a seu senhor o que se tinha passado. 32Então o senhor
o chamou e lhe disse: Servo mau, eu te perdoei toda sua dívida, porque me
suplicaste; 33Não devias também tu compadecer-te de teu companheiro
de serviço, como eu tive piedade de ti? 34E o senhor, encolerizado,
entregou-o aos algozes, até que pagasse toda a sua dívida. 35Assim
vos tratará meu Pai celeste, se cada um de vós não perdoar a seu irmão, de todo
seu coração. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O Evangelho de hoje fala da necessidade
do perdão. Não é fácil perdoar. Pois certas mágoas continuam machucando o
coração. Há pessoas que dizem: "Eu perdôo, mas não esqueço!" Rancor,
tensões, brigas, opiniões diferentes, ofensas, provocações dificultam o perdão
e a reconciliação. Vamos meditar as palavras de Jesus que falam da
reconciliação (Mt 18,21-22) e que trazem a parábola do perdão sem limites (Mt
18,23-35).
* Mateus
18,21-22: Perdoar setenta vezes
sete!. Jesus tinha falado sobre a importância do perdão e sobre a
necessidade de saber acolher os irmãos e as irmãs para ajudá-los a se
reconciliar com a comunidade (Mt 18,15-20). Diante destas palavras de Jesus,
Pedro pergunta: “Quantas vezes devo perdoar ao irmão que pecar contra mim? Até
sete vezes?” O número sete indica uma
perfeição. No caso, era sinônimo de sempre. Jesus vai mais longe do que
a proposta de Pedro. Ele elimina todo e qualquer possível limite para o perdão:
"Não te digo até sete, mas até setenta vezes sete!” Ou seja, setenta
vezes sempre! Pois não há
proporção entre o perdão que recebemos de Deus e o perdão que nós devemos
oferecer ao irmão, como ensinará a parábola do perdão sem limites.
* A expressão setenta vezes sete era uma alusão clara às palavras de Lamec que
dizia: “Por uma ferida, eu matei um homem, e por uma cicatriz matei um jovem.
Se a vingança de Caim valia por sete, a de Lamec valerá por setenta vezes
sete" (Gn 4,23-24). Jesus quer reverter a espiral da violência que entrou
no mundo pela desobediência de Adão e Eva, pelo assassinato de Abel por Caim e
pela vingança de Lamec. Quando a violência desenfreada toma conta da vida, tudo
desanda e a vida se desintegra. Surge o Dilúvio e aparece a Torre de Babel da
dominação universal (Gn 2,1 a 11,32).
* Mateus
18,23-35: A parábola do perdão sem
limite. A dívida de dez mil
talentos valia em torno de 164 toneladas de ouro. A dívida de cem denários
valia 30 gramas de ouro. Não existe meio de comparação entre os dois! Mesmo que
o devedor junto com mulher e filhos fossem trabalhar a vida inteira, jamais
seriam capazes de juntar 164 toneladas de ouro. Diante do amor de Deus que
perdoa gratuitamente nossa dívida de 164 toneladas de ouro, é nada mais do que
justo que também nós perdoemos ao irmão a insignificante dívida de 30 gramas de
ouro, setenta vezes sempre! O único limite para a gratuidade do perdão de Deus
é a nossa incapacidade de perdoar o irmão! (Mt 18,34; 6,15).
* A
comunidade como espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. A
sociedade do Império Romano era dura e sem coração, sem espaço para os
pequenos. Estes buscavam um abrigo para o coração e não o encontravam. As
sinagogas também eram exigentes e não ofereciam um lugar para eles. E nas
comunidades cristãs, o rigor de alguns na observância da Lei levava para dentro
da convivência os mesmos critérios da sinagoga. Além disso, lá para o fim do
primeiro século, nas comunidades cristãs começavam a aparecer as mesmas
divisões que existiam na sociedade entre rico e pobre (Tg 2,1-9). Em vez da
comunidade ser um espaço de acolhimento, ela corria o risco de tornar-se um
lugar de condenação e de conflitos. Mateus quer iluminar as comunidades, para
que sejam um espaço alternativo de solidariedade e de fraternidade. Devem ser
uma Boa Notícia para os pobres.
4) Para um confronto pessoal
1.
Por que será que é tão difícil perdoar?
2. Na
nossa comunidade existe espaço para a reconciliação? De que maneira?
5) Oração final
Mostra-me, SENHOR, os teus caminhos,
ensina-me tuas veredas.
Faz-me caminhar na tua verdade e
instrui-me,
porque és o Deus que me salva,
e em ti sempre esperei. (Sl 24, 4-5)
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