REZANDO COM O EVANGELHO DO DIA
(LECTIO DIVINA)
Reflexões de Frei Carlos Mesters, O.Carm
Segunda-feira da 3ª Semana da Quaresma
1) Oração
Ó Deus, na vossa incansável misericórdia,
purificai e protegei a vossa Igreja,
governando-a constantemente,
pois sem vosso auxílio ela não pode salvar-se.
Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso
Filho, na unidade do Espírito Santo.
2) Leitura do Evangelho (Lucas 4,
24-30)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo,
24Jesus acrescentou: Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem
aceito na sua pátria. 25Em verdade vos digo: muitas viúvas havia em
Israel, no tempo de Elias, quando se fechou o céu por três anos e meio e houve
grande fome por toda a terra; 26mas a nenhuma delas foi mandado
Elias, senão a uma viúva em Sarepta, na Sidônia. 27Igualmente havia
muitos leprosos em Israel, no tempo do profeta Eliseu; mas nenhum deles foi
limpo, senão o sírio Naamã. 28A estas palavras, encheram-se todos de
cólera na sinagoga. 29Levantaram-se e lançaram-no fora da cidade; e
conduziram-no até o alto do monte sobre o qual estava construída a sua cidade,
e queriam precipitá-lo dali abaixo. 30Ele, porém, passou por entre
eles e retirou-se. - Palavra da salvação.
3) Reflexão
* O evangelho de hoje (Lc 4,24-30) faz
parte de um conjunto mais amplo (Lc 4,14-32). Jesus tinha apresentado o seu
programa na sinagoga de Nazaré por meio de um texto de Isaías que falava dos
pobres, presos, cegos e oprimidos (Is 61,1-2) e que refletia a situação do povo
da Galiléia no tempo de Jesus. Em nome de Deus, Jesus tomou posição e definiu
sua missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, proclamar a libertação aos presos e
a recuperação da vista aos cegos, restituir a liberdade aos oprimidos.
Terminada a leitura, ele atualizou o texto e disse: “Hoje se cumpriu esta
escritura nos ouvidos de vocês!” (Lc 4,21).. Todos os presentes ficaram
admirados (Lc 4,16-22ª). Mas logo em seguida, houve uma reação de descrédito. O
povo na sinagoga ficou escandalizado e já não queria saber de Jesus. Dizia:
“Não é este o filho de José?” (Lc 4,22b) Por que ficaram escandalizados? Qual o
motivo daquela reação tão inesperada?
* É que Jesus citou o texto de Isaías só
até onde diz: "proclamar um ano de
graça da parte do Senhor", e cortou o final da frase que dizia: “e proclamar um dia de vingança do nosso
Deus” (Is 61,2). O povo de Nazaré ficou bravo porque Jesus omitiu a frase
sobre a vingança. Eles queriam que a Boa Nova da libertação dos oprimidos fosse
uma ação de vingança da parte de Deus contra os opressores. Neste caso, a vinda
do Reino seria apenas uma virada da mesa e não uma mudança ou conversão do
sistema. Jesus não aceita este modo de pensar. A sua experiência de Deus como
Pai ajudou-o a entender melhor o sentido das profecias. Descartou a vingança. O
povo de Nazaré não aceitou esta proposta e começou a diminuir a autoridade de
Jesus: “Não é este o filho de José?”
* Lucas
4,24: Nenhum profeta é bem aceito em
sua pátria. O povo de Nazaré ficou com ciúme de Jesus por ele não ter feito
nenhum milagre em Nazaré como tinha feito em Cafarnaum. Jesus responde: “Nenhum
profeta é bem recebido em sua pátria!” No fundo, eles não aceitavam a nova
imagem de Deus que Jesus lhes comunicava através desta nova interpretação mais
livre de Isaías. A mensagem do Deus de Jesus ultrapassava os limites da raça
dos judeus e se abria para acolher os excluídos e toda a humanidade.
* Lucas
4,25-27: Duas histórias do Antigo
Testamento. Para ajudar a
comunidade a superar o escândalo e entender o universalismo de Deus, Jesus usou
duas histórias bem conhecidas do AT: uma de Elias e outra de Eliseu. Por meio
destas histórias ele criticava o fechamento do povo de Nazaré. Elias foi
enviado para a viúva estrangeira de Sarepta (1 Rs 17,7-16). Eliseu foi enviado
para atender ao estrangeiro da Síria (2 Rs 5,14).
* Lucas
4,28-30: Queriam matá-lo, mas ele
prosseguia o seu caminho. A apelo de Jesus não adiantou. Ao contrário! O
uso destas duas passagens da Bíblia provocou mais raiva ainda. A comunidade de
Nazaré chegou ao ponto de querer matar Jesus. E assim, no momento em que
apresentou o seu projeto de acolher os excluídos, Jesus mesmo foi excluído! Mas
ele manteve a calma. A raiva dos outros não conseguiu desviá-lo do seu caminho.
Lucas mostra assim como é difícil superar a mentalidade do privilégio e do
fechamento. Mostrava ainda que a polêmica abertura para os pagãos já vinha
desde Jesus. Jesus teve as mesmas dificuldades que as comunidades estavam tendo
no tempo de Lucas.
4) Para um confronto pessoal
1.
Será que o programa de Jesus está sendo o meu programa, o nosso programa? Minha
atitude é a de Jesus ou do povo de Nazaré?
2.
Quais os excluídos que deveríamos acolher melhor na nossa comunidade?
5) Oração final
Minha alma desfalece
e suspira pelos átrios do SENHOR.
Meu coração e minha carne exultam no Deus
vivo. (Sl 83, 3)
Nenhum comentário:
Postar um comentário